sábado, 20 de outubro de 2007

Pare de amar, amando.

‘Foi embora para sempre’. Foi o que ela me disse depois de brigar e manda-lo ir embora de uma vez. Porque ela não agüenta essa vida de descaso, porque ela não entende porquê ele não muda e não suporta mais chorar todas as noites em que ele dorme fora e que ela sabe que ele está com outra. Ou seriam outras? Foi por isso.

‘ Última vez pela vigésima vez. ’, pensei eu. Mas não disse nada, é claro. É que eu me lembro de como foi com meu último relacionamento. Quantas e quantas vezes me prometi não olhar para trás. Logo eu, logo eu. Olhei. Umas vintes vezes também. Nem é amor, é o costume. Ter que dar Adeus tão de repente quando está tudo indo tão bem aos seus olhos. Por mais que a mágoa seja grande e os motivos sejam bons, é inexplicável como dói. E vai, e volta. Como um elástico, sabe? Eu penso agora, que foi uma forma que encontrei de dividir a minha dor em partes e ir sentindo aos pouquinhos da forma que eu conseguia suportar. Foi assim com ele também. Conheço pessoas que ficam muito tempo assim vivendo em “efeito elástico”. Só tem fim quando acaba a flexibilidade de algum dos lados. Comigo foi assim. Bate e volta, bate e volta. A dor se fraciona. Você vai sentindo cada vez menos falta daquela pessoa que era o objeto do seu amor. Talvez seja como aquelas propagandas que eu sempre considerei ridículas: ‘Pare de fumar fumando!’

Voltando ao ponto de interesse: Ele não gostou do fato de não poder mais entrar em casa. È imaginem: ele não gostou. Duas filhas, a enteada sempre na dela. A mulher que ele já não ama mais. Mas ele queria continuar fazendo parte da família, pelo que entendi. Mas assim não daria pra ela e nós entendemos perfeitamente, é claro.

Num acesso de raiva, rasgou uma foto em que estava com a caçula, quando ela ainda era um bebê, em uma cena comovente de tão bonita e pura que era. ‘Se não posso mais entrar aqui, então não quero que tenham fotos minhas. ’ Pfff. É nessas horas que conseguirmos ver essa pessoa que tanto amamos sem a máscara que criamos para elas. E como dói. Uma dor que vai de alívio por estar acabando a arrependimento por ter começado em instantes inexplicavelmente longos. Era umas das fotos preferidas da caçula. Ficou lá no chão, até eles saírem histéricos do quarto. Minha irmã do meio entrou, muito quieta e teve o trabalho de colar todos os pedacinhos, com fita crepe, da forma mais delicada que isso poderia ser feito. Disse-me que passou a tarde fazendo isso. Ainda bem, a caçula não viu nada. Confesso que me emocionei e me orgulhei diante de uma atitude tão linda de uma criança de apenas 9 anos de idade.

Minha mãe pegou a foto, e com os olhos marejados me disse:

- Se eu conseguir minha filha, colar os pedaços do meu coração tão perfeitamente como os dessa foto, eu tenho certeza que nada mais conseguirá quebra-lo novamente.

6 comentários:

Paula Carolinny disse...

"Se eu conseguir minha filha, colar os pedaços do meu coração tão perfeitamente como os dessa foto, eu tenho certeza que nada mais conseguirá quebra-lo novamente"

e viver muito bem s-e-m-p-r-e.
parabens pelo texto.

bju

Marília disse...

Amiga....PERFEITO!
Aliás, as vezes sinto com a falta de palavras.
Queria poder dizer mais.

"...'efeito-elástico'. Só tem fim quando um dos dois perde a flexibilidade...".


É....


ainda bem que eu já tô perdendo a minha!

Parabéns pelo texto, Mayara Pessoa.
Veio a calhar.

Beijos

Marília disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marília disse...

Sobre o meu post:


Acho que nao, May.
A gente atrai o que transmite.
Eu nao transmito medo, tenho certeza que nao...

Anônimo disse...

Mayyyy,
efeito elástico nunca dá certo. A melhor opção é acabar de vez. Sofre muito menos. É quem nem largar o vício de qualquer droga. Tem que ser de uma vez. Não existe largar vício usando cada vez menos.

Bjão.

ps.: Muito bom o texto hein May. Arrepiou vc.

Marília disse...

"Pare de amar,amando"

Que tal?